Ansiedade assumida

Quando assumi a ansiedade…
Não houve pronunciamento oficial.
Nem declaração pública.
Ou uma nota divulgada pela imprensa.
Assumi com discrição mesmo.
Mas deixei ela sair do armário.

Demorei a identificar. Ou relutei, sei lá.
E olha que não foi por falta de aviso.
Dez anos antes, minha ex me deu um livro.
Do Augusto Cury.
“Ansiedade – Como enfrentar o mal do século”.
Achei o presente curioso, mas não desconfiei.
Ela sabe que eu amo livros, escolheu um aleatoriamente, pensei.
Hoje sabemos que não foi bem assim, não é?
Quem “sabemos”?
Eu e ela. A ansiedade, claro.
Estamos juntos, de mãos dadas.
É igual casamento.
Na alegria e na tristeza, ela está lá.
No início, relutei.
Como assim, logo eu, um poço de tranquilidade.
Aprendi que autocontrole e resiliência não garantem a paz de ninguém.
Assuma esse B.O. para você.


Ainda estou procurando maneiras de lidar.
Venho tentando a meditação.
Ajuda no processo de adiar a terapia.
Não que isso me assuste.
Tá, me assusta sim.
Me assusta para caramba.
A ideia de alguém me analisando/julgando/revirando a minha mente me causa mais ansiedade do que a própria ansiedade.
Teimoso!
Deve ser mal de Capricórnio.
Vai fazer o que então, sabichão?
Outro dia vi um vídeo do Marcos Lacerda.
Baita terapeuta. Nós na questão. Tá lá no YouTube.
Ele deu o exemplo de quem faz tatuagem.
No início, ela coça para burro, mas você não pode coçar. Faz o que, então?
Olha para ela, encara firme e espera até ela ir embora.
Eu tento encarar com bom-humor.
Às vezes me olho no espelho e digo:
“Cadê o meu ansiosinho? Cadê?”
Mas, nem sempre a gente ri.


Só quem tem ansiedade sabe como que é:
Ter uma discussão boba com a namorada e achar que ela já vai querer terminar com você.
Receber uma ligação dos pais e sentir o coração apertar, pensando que vem notícia ruim por aí.
Ouvir a chefe dizer que precisa falar com você mais tarde e passar o dia sofrendo por uma carta de demissão imaginária.
Carregar sentimento de culpa nas costas, como se fosse uma bolsinha da Quechua.


Sendo assim, me restou apenas escrever.
Solução óbvia, é meu refúgio desde sempre.
Até quando vai funcionar eu não sei.
Mas, hoje, agora, neste momento, fez eu me sentir melhor.

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