Quando a realidade não passou de ficção

Fui enganado.

Em novembro de 2010, após as facções criminosas tocarem o terror pela cidade, a polícia do Rio de Janeiro me fez acreditar que seria diferente.

Com o apoio da opinião pública, organizou uma mega operação e invadiu a Vila Cruzeiro e o Complexo do Alemão. Digno de Hollywood.

Assisti a tudo aquilo pela TV, de olhos vidrados, boquiaberto diante das cenas em que a vagabundagem corria desesperada, acuada que nem barata, sem saber pra onde ir.

Pensei, como jornalista e cidadão: “Sandro, agora vai!”

Foram reportagens e mais reportagens mostrando a coragem não só dos fardados do Bope e das forças especiais, mas principalmente da Polícia Militar.

Lembro bem que as pessoas, ao verem um carro da PM na rua, mostravam não repulsa ou medo, mas admiração e até uma certa dose de esperança. Assim como eu.

Tolo, acreditei que os ‘Capitães Nascimento’ de verdade haviam pulado das telas do cinema e mostrado para a população que eles existiam, e tinham vindo pra ficar.

Crédito da foto: Robson Fernandes/ AE

Crédito da foto: Robson Fernandes/ AE

É, fui enganado. Fomos.

O tempo mostrou que, não só a ocupação das comunidades foi falha (e até certo ponto ineficiente), como também a PM continuou manchando a própria imagem e reputação.

Aquilo que apareceu na TV foi um conto da carochinha. Ficção. Devaneio.

Tudo evidenciado, mais do que nunca, pela truculência covarde em meio a onda de protestos que marcaram o mês de junho. O mês da ‘Copa das Manifestações’.

E que após uma pausa pro refresco, voltou com tudo nos meses seguintes. Chegamos em novembro de novo, três anos depois  que a minha esperança se renovara. Mas o que dizer depois de tudo? Dos Amarildos aos tiroteios que terminaram com a morte de inocentes.

E lá se foi a esperança pro ralo outra vez…

Diante de uma excelente oportunidade de se colocar ao lado da população, lutar junto, ou mesmo reivindicar condições mais dignas, a PM jogou tudo por terra de novo, com direito a muito gás lacrimogênio, pimenta e balas de borracha. Sem falar na arrogância.

Antes a desculpa era atacar os vândalos, os mascarados, os arruaceiros. Agora, amigo, pobre de quem estiver na reta. Esteja com um cartaz na mão, uma pedra, ou apenas tomando um choppinho no bar.

Não há distinção na democracia da repressão.

Putz… ser enganado é ruim pra caramba.

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